sexta-feira, 24 de abril de 2015

Destino Cervejeiro - Visita a Bodebrown

No começo do ano passei alguns dias trabalhando em Maringá, a terceira maior cidade do estado do Paraná. Uma cidade projetada, com avenidas largas, organizadas, com rotatórias e muitas árvores. É considerada uma das cidades mais arborizadas do país.
Queria ter aproveitado a oportunidade para conhecer e tomar algumas cervejas com o cervejeiro David Redmerski Junior, o qual conheci através de internet e já batemos muito papo sobre cerveja. Porém a agenda estava lotada todos os dias e teve que ficar para uma próxima.
O detalhe é que o David é cervejeiro caseiro e fez uma de suas receitas em parceria com a Cervejaria Araucária. A cerveja foi a RedCor Ryequeoparta, uma Black IPA com 110 IBUs.
O resultado dessa cerveja colaborativa entre em cervejeiro caseiro e uma micro cervejaria foi nada mais, nada menos, que uma medalha de Ouro Festival Brasileiro da Cerveja de Blumenau e ainda foi a terceira cerveja com maior pontuação de todas que foram premiadas no festival, ou seja, a terceira melhor cerveja do Brasil. E pensar que talvez eu poderia ter tomado ela em primeira mão....affff

Para retornar para o RS eu faria uma escala no Aeroporto de Curitiba, na verdade não seria uma escala, seria um chá de cadeira por longas horas.

Pensar em Curitiba para mim é pensar em Bodebrown.

Olhei para o relógio e daria tempo suficiente para sair e conhecer a Bodebrown. Mandei uma mensagem para o Samuel Crhistophe Cavalcanti Cabral, proprietário da cervejaria que disse que eu poderia ir, embarquei num táxi e fui.

Sempre que vamos conhecer um lugar novo existe aquele expectativa de "como será...".

Ao sair de uma avenida movimenta e entrar numa ruazinha menor, de pouco movimento, sabia que estávamos chegando. Até que eu falei para o taxista: "Pode me deixar ali naquela kombi estacionada". 
Não era uma simples kombi estacionada na rua.

Era a KombIPA estacionada em frente a Bodebrown.


Fui recepcionado pelo Gerente e Mestre Cervejeiro Sr Ilceu Dimer que disse que não poderíamos fazer a visitação normal na cervejaria pois ele estava no meio da brassagem de uma Tripel, mas se quisesse poderia acompanha-lo. Eu disse que conhecia todos os processos e que seria muito melhor acompanhar a produção.


Cozinha da Bodebrown




O dia estava quente e ficamos na sala de brassagem da Bodebrown batendo papo. O mosto foi transferido para a panela de fervura e ficou ainda mais quente, muito quente. Porém foi um dos bate papo sobre cerveja mais agradáveis que já tive.






Fervura da Tripel


O Sr Dimer é uma pessoa extraordinária com enorme experiência, que gosta de compartilhar conhecimento e é apaixonado pelo que faz. Esse ano vai completar 37 anos trabalhando com cerveja, dono de mais de 50 medalhas e prêmios em torneios de cerveja pelo mundo, faz consultorias e treinamentos para inúmeras cervejarias.







Sr Ilceu Dimer - Gerente e Mestre Cervejeiro da Bodebrown
Impossível não se encantar com suas histórias vividas pelo longo da carreira.


Sala de maturação em barris


Aproveitei a oportunidade para pegar algumas dicas de cervejas maturas em barris de madeira reutilizados da indústria vitivinícola, o que tem virado uma especialidade da Bodebrown.

Imperial Stout maturando no barril desde 06/03/2014

Para quem não conhece, a Bodebrown é uma cervejaria-escola fundada por Samuel Cavalcanti. Infelizmente o Samuel não estava na cervejaria no momento que cheguei e não tive a oportunidade de conhece-lo pessoalmente, embora seu trabalho e engajamento com a cultura cervejeira já acompanho a bastante tempo.
Junto a cervejaria tem uma loja, onde além das cervejas tem a venda insumos para fabricação caseira de cerveja, insumos que vão das panelas, baldes fermentadores a malte, lúpulos e levedura. Tudo que precisa para produção de cerveja caseira tem a venda na loja de maneira bem fracionada.
Poderia me estender por longos parágrafos falando sobre o Samuel e a Bodebrown, mas vou compartilhar com vocês um excelente vídeo da Debruer Tv que retrata muito bem o que eu gostaria de dizer.

Bem, minha vontade era passar a tarde toda ali e congelar o tempo, mas passou voando enquanto conversava com Sr Dimer e eu não poderia correr o risco de perder meu voo pois teria uma reunião no outro dia pela manhã. Tratei de voltar para o aeroporto, não deu tempo nem de degustar cerveja, mas ainda consegui chegar com certa antecedência para meu voo.

Claro que depois de visitar uma cervejaria, falar sobre cerveja e acompanhar a produção de uma Tripel eu estava com sede. Em aeroportos encontrar um cerveja de verdade é quase impossível, mas me surpreendi com o aeroporto de Curitiba, com o Stoppen Beer para ser mais específico. Um lugar com dezenas de rótulos de cervejas artesanais e importadas, pratos com sugestão de harmonização com cerveja por estilos e alguns rótulos on tap.





Pedi uma Way American Pale Ale na pressão e novamente tive vontade de congelar o tempo e até torci para que meu voo atrasasse, mas para o meu "azar" foi pontual.

Ficou apenas o sentimento de que será uma parada obrigatória em todas as passagens pelo aeroporto de Curitiba e ser uma pena não ter um Stoppen Beer em mais aeroportos do Brasil.

 Abraço e até o próximo Destino Cervejeiro














terça-feira, 14 de abril de 2015

Franke Bier - Tornado Alley (APA)

2015 começou movimentado e corrido, especialmente os meses de fevereiro, março e abril.
Não é uma desculpa, mas é um dos motivos de não ter feito nenhum post recentemente. Porém não abandonei o blog, durante esse tempo escrevi algumas coisas só não postei ainda. Em breve teremos um post Destino Cervejeiro com todos os detalhes de uma visita que fiz a Cervejaria e Escola Bodebrown, uma viagem quase nada cervejeira pelo Nordeste e mais alguns Mitos Cervejeiros.

No dia 22/03 foi aniversário da matriarca da família Franke.



Minha avó Ilory Franke comemorou 87 anos juntando todos os filhos, genros e noras, quase todos netos, bisnetos, familiares e amigos.
Fácil imaginar que foi uma grande e bela festa.




Escolhi essa data para inaugurar uma receita nova, a Franke Bier Tornado Alley, e esse post é para falar dessa cerveja.
Gosto das histórias e curiosidades por traz dos rótulos e das cervejas e a Franke Bier Tornado Alley tem suas curiosidades.
A receita criei basicamente com insumos que tinha sobrando e apenas no blend de malte que farei correções para as próximas levas.

APA é a sigla para American Pale Ale, uma adaptação americana para o estilo India Pale Ale (IPA). Em Escolas-cervejeiras vimos que as IPAs surgiram no começo do século XVI, onde para não estragar em longas viagens de navio, os Ingleses faziam a cerveja com uma quantidade extra de lúpulo, que por ser um conservante natural garantiam a qualidade da cerveja por mais tempo. Já a Escola Americana se caracteriza por cervejas extremas, releituras de estilos clássicos, mas carregados de lúpulo e estilos novos onde o show fica por conta dos aromas e amargor dos lúpulos.
Agora tente imaginar a APA.... Definitivamente é uma cerveja lupulada e EXTREMA.
Meu objetivo era fazer uma cerveja que o show seria por conta dos lúpulos. Para isso utilizei um blend suave de maltes e diferentes técnicas de lupulagem como First Wort Hopping, Late Hopping, Whirpool Hopping e finalizei com Dry Hopping. Foram 3 tipos diferentes de lúpulos, todos americanos.

E por que Tornado Alley?
Seguindo no pensamento de coisas extremas, talvez o evento meteorológico mais extremo da natureza sejam os tornados.
Tornado Alley é o termo para designar a região dos EUA que mais sofre com a incidência de tornados. A localização abrange vários estados que frequentemente são atingidos pelo fenômeno.

Ok, só isso? Não, isso ainda não explica o nome. Só mais um pouco!!!

Enquanto fazia minha Franke Bier extrema eu não tinha nome para ela ainda. Estava no meio do processo e tudo correndo dentro do planejado.
Quando faço a cerveja, tiro o dia apenas para isso, então minha mulher foi trabalhar de moto. A tardinha, quando eu iria iniciar a fervura do mosto, ela estava saindo do trabalho.


Meu telefone tocou e era ela ligando para dizer que haviam roubado a moto do estacionamento.

Pesei os lúpulos rapidamente, deixei todos separados, peguei o carro e corri com ela para a polícia.
Enquanto fazia o Boletim de Ocorrência eu controlava o tempo de fervura. Nas adições de lúpulo que ligava para minha irmã que instrui para cuidar a fervura.

Após o B.O. voltei para a produção, encerrei a fervura, fiz o Whirpool Hopping, comecei o resfriamento do mosto, deixei novamente minha irmã controlando e fui com um amigo para a periferia da cidade procurar a moto.

Literalmente a cabeça estava em dois lugares, na moto que haviam roubado e eu estava procurando num lugar nada amistoso, correndo até risco pois estava negóciando "regaste" com criminosos e a cabeça também estava na brassagem da minha primeira APA, que certamente seria inesquecível em virtude desse episódio.

Ai que me veio a ideia do nome.

A moto era uma Honda Tornado e na mesma hora fiz a analogia do nome com o fenômeno extremo praticamente típico americano, os Tornados.
Uma cerveja inspirada na escola americana, com lúpulos americanos e com características extremas poderia se chamar Tornado.
Alley é uma pequena referência a leveduras de alta fermentação que utilizei, mais conhecidas com Ale. Fechou todas - Franke Bier Tornado Alley


Lúpulo Amarillo utilizado na receita


Apesar de todos os imprevistos ao tomar o primeiro gole da Franke Bier Tornado Alley eu esqueci de todos os contratempos que tive e a cerveja ficou espetacular. Já estou programando e segunda leva, mas dessa vez sem eventos extremos e inesperados, por favor!!




Franke Bier Tornado Alley (American Pale Ale) - Cerveja de alta fermentação, não filtrada com coloração âmbar claro com leve turbidez decorrente do Dry Hooping. Espuma branca, cremosa e consistente.










Aroma cítrico, frutado e herbal. Na boca um leve dulçor dos maltes que logo é substituído por um delicioso amargor moderado que remete a maracujá. Excelente drinkability.