terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Comida e cerveja artesanal, uma harmonização nota 10

O último post aqui no blog foi sobre os O papel, o sucesso e os desafios da Cerveja Artesanal.
Esse questionamento surgiu para um amigo que esta fazendo um trabalho na cadeira de Engenharia de Alimentos no curso de Agronomia da UFRGS e pediu minha opinião.

Agora no novo post o universo acadêmico novamente pinta por aqui.

Dessa vez foi no Curso Superior de Tecnologia em Gastronomia da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC) que a cerveja artesanal apareceu.
A aluno João Zwirtes Hamester apresentou sua criação culinária para a banca avaliadora de conclusão do curso.


O prato apresentado foi "Sobrepaleta suína confitada, ao molho de caramelo de alho acompanhado de purê de batata doce cítrico".


Com características que o definem como um prato da cozinha contemporânea com um toque de regionalidade, que valoriza e utiliza ingredientes de produtores locais.

A carne utilizada na receita foi marinada por 24 horas com ervas e especiarias, o purê foi elaborado com a batata Beauregard, processada com Kässchimier, zestes de casca de laranja, sal e pimenta do reino preta.
O Kässchimier é uma coalhada de queijo muito comum em regiões colonizadas por imigrantes alemães, é muito utilizado como cobertura nas famosas cucas de Santa Cruz do Sul. No prato foi incorporado ao purê, conferindo sabor e textura.

O molho foi feito a partir de um caramelo de açúcar branco, manteiga e dentes de alho. Formando um molho brilhoso e bastante aromático.
A finalização ficou por conta de crocantes pele de porco fritas, broto de beterraba e funcho.

O prato enquadra-se perfeitamente no movimento Slow food, que na tradução livre podemos dizer que significa "comer devagar".
É um movimento que iniciou na Itália em 1986 com o objetivo de promover uma maior apreciação da comida, melhorar a qualidade das refeições e uma produção que valorize o produto, o produtor e o meio ambiente.
Defende uma maior lentidão no processo de produção e degustação dos alimentos, visando um aumento do prazer proporcionado pelos mesmos, num contraste com o fast-food.

O alimento precisa ser  tão gostoso que merece ser saboreado com calma, fazendo de cada refeição uma pausa especial do dia. Que seja bom à saúde do consumidor e dos produtores, sem prejudicar o meio ambiente, nem os animais.
Que seja produzido com transparência e honestidade social e, de preferência, de produtores locais.

Talvez dentro desse conceito de Slow Food que o João teve a ideia de harmonizar seu prato com cerveja artesanal, afinal os movimentos defendem idéias semelhantes:

Os produtores de Cervejas Artesanais defendem um consumo responsável e consciente. 
O consumir utilizando todos os sentidos, de um produto que prima pela qualidade, sem utilização de produtos químicos para acelerar processos ou preservar a cerveja. 
Uma cerveja natural, feita por cervejeiros ou micro cervejarias, de forma artesanal (quase artística), com todos os cuidados e respeito que a bebida merece.

Outra possibilidade talvez tenha sido de oferecer uma experiência gastronômica completa para a banca, de um excelente prato harmonizado com uma excelente cerveja que o completasse.

O João postou no Grupo de Discussões da CerVale Rio Pardo no Facebook sua vontade de harmonizar o prato.

Achei muito legal a ideia por justamente a cerveja artesanal e a gastronomia andarem juntos.

Coisa que muitos chefs ainda não descobriram. 

A cerveja oferecendo uma gama gigantesca de estilos, aromas e sabores que proporcionam não apenas um acompanhamento, mas uma verdadeira harmonização onde os dois elementos (o prato e a cerveja) se completam, que se unem para impressionar nossos sentidos, encher nossa alma e nos dar o verdadeiro prazer da boa comida e bebida.





Logo que li as características do prato pensei na harmonização com a Franke Bier - Red Ale por ser uma cerveja mais forte, mas com o equilíbrio entre o malte e o lúpulo combina com pratos robustos, carne de porco e certamente combinaria muito bem até com o Kässchmier.
Mas a cerveja ainda estava no tanque de maturação e não tinha disponível.








Pelas especiarias, pelo toque cítrico, por ter zestes de casca de laranja imaginei em harmonizar com a Franke Bier - WitBier, uma cerveja que leva cascas de laranja e coentro na receita. Porém o porco já não combinaria muito bem, pois apesar da cerveja ter até um toque apimentado é uma cerveja leve.







A única opção que eu ainda tinha disponível é a Franke Bier - Tertúlia (Kölsch) que combina com pratos mais leves, como pratos a base de peixe por exemplo.





Então esqueci as minhas cervejas e passei a imaginar qual estilo harmonizaria com o prato como um todo e quem poderia ter a cerveja.



Não demorou para me lembrar da Dunkelweizen dos amigos cervejeiros caseiros da OverBeer, Eduardo Overbeck (filho) e Jorge Overbeck (pai).

A Dunkelweizen é um estilo meio que coringa para harmonização com pratos, especialmente a base de carnes fortes.

Os Overbeck tinham a cerveja disponível e toparam o desafio.





E o resultado?

Bem eu não sei se ficou bom pois não tive a oportunidade de degustar esse prato e fazer essa harmonização, mas acho que o João ainda vai nos proporcionar esse prazer hehe.

O que sei é que ele foi APROVADO pela banca com nota 10!!!

Basta ver as fotos que ja temos certeza que ficou fantástico.


João, parabéns pelo prato, parabéns pela aprovação da banca e parabéns por se propor a fazer essa harmonização com uma cerveja artesanal feita aqui na cidade.
De forma geral a maioria dos profissionais da gastronomia precisam conhecer a cerveja artesanal, sua capacidade de harmonização, que vai de saladas até sobremesas e você já tem essa visão, que pode apostar: É uma tendência de um mercado que vai crescer muito.

Em breve farei um post falando um pouco mais sobre a harmonização de cervejas artesanais com pratos especiais, quem sabe até com a receita de "Sobrepaleta suína confitada, ao molho de caramelo de alho acompanhado de purê de batata doce cítrico", harmonizada com Franke Bier Red Ale. (hehehe)

Abraço e um brinde aos prazeres das cervejas e comidas verdadeiras. 

terça-feira, 25 de novembro de 2014

O papel, o sucesso e os desafios da cerveja artesanal.

O amigo Elias Kuck esta cursando Agronomia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Na cadeira de Engenharia de Alimentos a turma terá de fazer um trabalho sobre cerveja, que vai abordar desde o plantio dos insumos até o engarrafamento.
Também vão destacar as micro cervejarias brasileiras, seu papel e relatar o sucesso das cervejas artesanais.
O Elias perguntou se eu poderia colaborar dando minha opinião sobre o papel, o sucesso e os desafios.

Fiquei muito feliz especialmente por dois motivos:

1° - Por esse trabalho estar sendo desenvolvido na UFRGS. Isso mostra o quanto as micro cervejarias e as cervejas artesanais vem ganhando destaque.
Há poucos anos atrás era praticamente impossível encontrar cerveja artesanal para vender, quem diria ser tema de um trabalho na Universidade.
Talvez muitos da turma ainda não conheçam as cervejas artesanais, no mínimo vão ficar muito curiosas e vão levar os conhecimentos para mais pessoas.
Que lugar melhor para difundir conhecimento que uma turma de Universidade?

2° - Por ser lembrado pelo Elias para falar sobre o papel das Micro cervejarias, seu sucesso e desafios.
Faço a minha própria cerveja artesanal como hobby, sou membro da Associação de Cervejeiros Artesanais do Rio Grande do Sul (Acerva Gaúcha) e dos Cervejeiros do Vale do Rio Pardo (CerVale Rio Pardo).
Não sou dono de micro cervejaria, mas falo com conhecimento de quem é muito ligado ao movimento cervejeiro e acompanha a anos o mercado em todos os aspectos.
Tenho muitos amigos no ramo, tenho visitado e conhecido micro cervejarias em vários estados brasileiros. Com isso tenho contato cervejeiros e empresários que compartilham seus cases de sucesso, queixas, erros e acertos.

Achei que seria interessante dar minha opinião já fazendo um post no Blog e assim tornar a leitura disponível para quem mais tivesse interesse.

Para entender o sucesso das cervejas artesanais é preciso fazer uma pequena análise histórica do mercado cervejeiro mundial.

Em 1985 na música "Geração Coca-Cola" a banda Legião Urbana cantava que "quando nascemos fomos programados a receber" influências dos EUA.

A influência dos EUA no Brasil não foram apenas nos "enlatados", mas nas cervejas também.

Cervejaria clandestina sendo esvaziada.   Imagens Google

De 1920 a 1933 vigorou nos EUA a Lei Seca que proibia a fabricação, o comércio, o transporte, a exportação e a importação de bebidas alcoólicas.
A intenção era reduzir o consumo de álcool e acabar com as Empresas que produziam. O que se viu foi uma procura ainda maior por produtos de alto teor alcoólico. O surgimento de fábricas clandestinas controladas por bandidos, contrabandistas e gangsters, que travavam verdadeiras guerras sangrentas pelo poder.







Fiscais eliminando cerveja clandestina



A corrupção era galopante, não haviam fiscais suficientes e tudo virou um grande caos.





O combate ao consumo de bebidas alcoólicas não era exclusividade dos EUA. Entre o final do século XIX e começo do século XX, em diferentes partes do mundo vários movimentos organizados e eventos aconteciam.
Esses movimentos influenciaram a cerveja e muitas coisas que existem hoje, como por exemplo o surgimento dos Pubs.

Alemanha devastada na Segunda Guerra Mundial

É preciso destacar também a primeira grande guerra, onde a preocupação era não utilizar grãos para a produção de bebidas a fim de evitar a escassez.

Já na Segunda Guerra Mundial o problema foi a devastação da Europa e dos principais produtores e fornecedores de malte e lúpulos.






Nos EUA primeiro passo para o fim da Lei Seca foi liberar bebidas com até 4% de teor alcoólico.

Com o cenário descrito acima, para estar dentro da legalidade era preciso se adaptar.
Era preciso abandonar as cervejas Ale (preferidas até antes da Lei Seca) e produzir cervejas de baixa graduação alcoólica para uma população que ficou mais de uma década praticamente só tomando refrigerantes.

O paladar da população para cervejas complexas tinha acabado.

Além da escassez das matérias primas base da cerveja, o milho era abundante e passou, junto com arroz, a ser utilizados nas bebidas como alternativa barata para substituição de malte.

O resultado podemos chamar de Lite American Lager.

Um estilo de cerveja leve, aguada, sem sabores de malte ou lúpulo, com baixo teor alcoólico e que precisa ser consumida estupidamente gelada para mascarar sabores indesejados da bebida, mas que dentro do estilo esses sabores são permitidos.

Opa...alguém se familiarizou com o termo "estupidamente gelada"?

Pois bem, esse estilo foi implementado no Brasil.
Certamente não só por influência dos EUA, mas também por força e imposição da grande indústria que concorre igual e deslealmente com as pequenas. E sob um pretexto de ser uma cerveja refrescante para matar a sede, uma "cerveja adaptada ao clima tropical do Brasil".
Não vou entrar no quesito de que os famosos cereais não maltados são substitutos baratos e sem qualidade de malte, não vou entrar em detalhes de quantidade e qualidade de lúpulos,
na opção por outros estilos, nem dos diferentes micro-climas do extenso território brasileiro ou qualquer outro argumento que derrubaria facilmente essa teoria de "cerveja adaptada ao Brasil".

O fato é que até poucos anos a população brasileira só tinha acesso a um tipo de cerveja, a Lite American Lager.

Se pegarmos todas as marcas das cervejas tradicionais que estão disponíveis no mercado, praticamente todas são esse estilo. No rótulo até muitas trazem "Cerveja tipo Pilsen", mas estão muito, muito, muito longe de ser uma Pilsen de verdade a ponto de que nem seriam chamadas de cerveja na Alemanha.

Hoje estamos vivendo uma revolução cervejeira graças as cervejas artesanais.

Essa mesma revolução aconteceu nos EUA a mais de 20 anos e podemos dizer vamos nos inspirar no que já aconteceu por lá, onde o mercado de cervejas artesanais já chega a 20% de participação no mercado.

Também vamos fazer a nossa revolução cervejeira, e já começou!!!

É fantástico apresentar uma cerveja diferente para pessoas que só conhecem as tradicionais e dizem que a X é a melhor, ou que só toma Y, ou que bom é Z que é mais barata...


Linha de envase cerveja Crystal (Grupo Petrópolis) Rondonópolis - MT


Diga-se de passagem que dentro da proposta, as cervejas tradicionais tem qualidade, são bons no que fazem, possuem um controle de produção fantástico, alta tecnologia empregada, garantem o mesmo produto em diferentes fábricas e uma capilaridade de distribuição impressionante.

Mas pecam em se limitar em produzir basicamente apenas um estilo de cerveja.




As pessoas quase não acreditam quando digo que todas as cervejas tradicionais são o mesmo estilo, umas melhores, outras piores, mas todas iguais e que num teste cego com várias só com sorte acertariam uma ou duas.
Se surpreendem quando digo que existem mais de 100 estilos diferentes e eles só conhecem um.

Tem uma frase que diz que o que é bom é fácil acostumar-se.
Comer e beber bem certamente são uns dos maiores prazeres da vida.

As palavras chave são: variedade e qualidade!!

Eu diria que o principal motivo do sucesso das cervejas artesanais é justamente conseguir surpreender os consumidores nessa lacuna gigantesca que existe de as pessoas poderem conhecer um estilo diferente do que as tradicionais oferecem.


As pessoas se encantam com o sabor de uma Red Ale, se deslumbram pelo perfume de uma IPA, se surpreendem com o gosto de uma WitBier, se encantam com a sutileza de uma Kölsch ou até mesmo enchem a alma ao degustar uma Pilsen Puro Malte.

O sucesso está diretamente ligado a qualidade e a variedade das cervejas que as micro cervejarias brasileiras tem oferecido aos consumidores.

O Mercado de cerveja artesanal do Brasil, mesmo com uma história curta, já tem grande destaque internacional.
As cervejas brasileiras conquistaram inúmeras medalhas nos principais torneios do mundo.
Diversos cervejeiros consagrados mundialmente vieram para o Brasil fazer produções colaborativas com as micro cervejarias brasileiras e alguns cervejeiros do Brasil foram fazer o mesmo fora do país.

A papel das micro cervejarias nesse cenário é mais complexo:

É preciso fomentar a cultura cervejeira;
É preciso educar o consumidor, explicar para ele o que ele esta consumindo;
É preciso participar de eventos, de feiras e festivais;
É preciso dar palestras em faculdades;
É preciso criar eventos;
É preciso fazer parcerias com restaurantes e promover refeições orientadas e harmonizadas;
É preciso conversar na mesa entre amigos sobre cerveja;
É preciso apoiar e compartilhar conhecimento com o movimento Homebrew, que são os maiores difusores da cultura cervejeira;
É preciso incentivar o consumo moderado, mas com qualidade (Beba Menos Beba Melhor);
É preciso ter canais de comunicação com os consumidores;
É preciso abrir as cervejarias e prepara-las para receber visitantes;
É preciso descriminalizar a cerveja;

Ou seja, é uma infinidade de ações que é preciso fazer, muitas vezes gastando e sem retorno imediato.

Não adianta montar uma planta cervejeira, fazer alguma cerveja básica, um espaço para festa em meio a cervejaria e deu.

Com o boom das cervejas artesanais vão surgir muitos oportunistas e aventureiros achando que o negócio é uma maravilha.
O mercado vai cuidar de selecionar as que vão sobreviver ou não. E eu garanto: vai sobreviver aquelas que se preocupam com a qualidade e são engajadas com o mercado cervejeiro como um todo.
Já visitei algumas que se preocupam mais com a dupla sertaneja que vai tocar nas dependências da cervejaria do que com a qualidade das cervejas produzidas.

Em contra partida, para as que primam pela qualidade e estão engajadas na revolução cervejeira do Brasil, dispostas a fazer tudo que "É preciso..." e muito mais, tenho certeza que vão ter muito reconhecimento do mercado consumidor e vão se destacar.
Todo esse barulho que estamos vendo a cerveja artesanal fazer no mercado é apenas o começo, é a pontinha do iceberg.



Acima eu disse que descriminalizar a cerveja era um papel das micro cervejarias, mas vou mudar isso e passar para um desafio.

É desafio para as micro cervejarias descriminalizar a cerveja.

A cerveja  tem uma imagem nada positiva na sociedade.
Graças a campanhas publicitárias ela esta associada a consumo exagerado, mulher pelada, verão, praia e futebol.
Está associada a tomar em latinha e jogar a mesma em qualquer lugar, ou tomar long-neck no bico.

Imagine a seguinte situação:
Você chega num restaurante relativamente bom e diz que quer tomar uma cerveja, nem precisa pedir a carta de cervejas, o garçom nunca viu isso.
Nem se arrisque a perguntar se tem alguma cerveja na pressão, isso o garçom nunca ouviu falar.
Só com muita sorte, ou até milagre, você vai encontrar uma cerveja artesanal.
Normalmente vai ter que escolher uma que provavelmente esta "pagando" as cadeiras, mesas, geladeiras e fachada do restaurante. As grandes indústrias que determinam dessa forma quais marcas o restaurante poderá vender (contratos de exclusividade onde o dono do restaurante não se preocupa com os clientes).
O garçom vai trazer a cerveja num porta garrafa possivelmente todo mofado.
O copo talvez não esteja engordurado, mas talvez seja aqueles que parecem mais um pote de requeijão.
Provavelmente a cerveja não vai harmonizar com nenhum dos pratos oferecidos pelo restaurante, mas ninguém se importa com isso (nem o dono do restaurante nem o chef).
Mas com certeza ela vai estar estupidamente gelada.

Agora vamos imaginar outra situação:
Você chega no mesmo restaurante (bom) e diz que quer tomar vinho.
Possivelmente o garçom vai trazer a carta de vinhos. Você analisa a carta, escolhe o vinho e não se assusta com os preços de R$50, R$60, R$70 (ainda imagina "é o preço").
O garçom traz a garrafa, um pano cuidadosamente dobrado sobre o braço e as taças. Abre a garrafa com todo o cuidado, da a rolha para você cheirar, talvez você não entenda nada de vinho, mas cheira a rolha (talvez só descubra se o vinho estiver azedo com isso), mas mesmo assim cheira e sinaliza positivamente com a cabeça para o garçom. Ele enrola o pano na garrafa e serve uma pequena quantidade no seu copo para degustar (novamente talvez você não entenda), você da uma bela cheirada no copo, gira a taça e observa as bordas, toma um pequeno gole, alguns segundos se seguem e você sinaliza positivamente para o garçom dizendo "pode servir".
Que fantástico todo esse cerimonial né? Que respeito a bebida e a quem a produziu. E certamente você vai conseguir pedir um prato que vai harmonizar com o vinho.

A cerveja e seus vários estilos oferecem uma infinidade de possibilidades de harmonização. Desde os pratos de entrada, pratos principais e até com sobremesas.
Não quero agora travar uma batalha de cerveja x vinho (quem sabe em outro post futuramente hehe), mas a cerveja consumida com moderação traz inúmeros benefícios para a saúde, até mais que o vinho com quantidades superiores de antioxidantes, vitaminas e fibras.
Não quero esse cerimonial para tomar a cerveja, mas temos muito que aprender com os produtores de vinho, desde apresentação a toda a mística que envolve o produto.

A cerveja tem que ser consumida de forma diferente. Ao degustar uma cerveja devemos utilizar nossos 5 sentidos:

Audição - Ao escutarmos a som da garrafa abrindo e nesse momento já podemos avaliar o nível de carbonatação da garrafa.
Na Alemanha é comum até colocar o copo próximo ao ouvido para escutar a espuma e as bolhas de CO² se desprendendo do copo.

Tato - É o contato com a garrafa e com o poco para avaliar sua temperatura.

Visão - É importante visualizar o rótulo e ler as informações nele contido. Com a cerveja servida é hora de visualizar a formação e a duração da espuma, a cor da cerveja.

Olfato - Que é obrigatório analisar numa cerveja artesanal, nas tradicionais não precisa fazer isso (nem deve, as vezes não vai ser muito agradável).
Pelo olfato é possível identificar nuances na cerveja gerados através das leveduras, do malte, do lúpulo, especiarias, métodos de maturação, dentre outros. Mas vai de notas florais e perfumadas a frutas cítricas, bananas, ameixas, café, dentre inúmeros outros aromas.

Paladar - É o grande momento da cerveja artesanal. É tomar sentindo o gosto, é tomar pensando, é tomar percebendo sabores que chegam a ser surpreendentes.

Mas vamos continuar falando no desafio para as micro cervejarias.

Algumas pessoas defendem que o maior desafio agora é criar o estilo brasileiro de cerveja.
Que seria o estilo do Brasil, nossa carta de apresentação para o mundo. Talvez com ingredientes típicos brasileiros.

Eu discordo, antes disso o desafio é fazer as pessoas experimentarem a cerveja artesanal, conhecer novos estilos e saber o que estão tomando.
Não adianta termos o estilo brasileiro de cerveja se esse ficar restrito a uma pequena parcela da população que conhece cerveja.
É preciso que grande parte da população ao menos saiba que existem outros estilos, que saibam o que é uma Porter, APA, Weiss, Amber Ale, Barley Wine, Tripel, etc.

Cerca de 98% dos consumidores de cerveja no Brasil só consomem as cervejas tradicionais e o desafio é justamente fazer essa parcela da população ao menos experimentar as artesanais.


Mas o maior desafio das micro cervejarias hoje no Brasil é sobreviver, isso mesmo SOBREVIVER!!

O desafio é pleitar uma tributação diferenciada, mais apropriada e justa para as micro cervejarias que hoje são taxadas igual as grandes indústrias que possuem ramificações em várias partes do mundo, capital gigantesco e acionistas. As micro cervejarias são controladas geralmente por pequenos e até micro empresários.

Algumas cervejas artesanais chegam a ter 70% do custo em impostos.

O custo da produção é infinitamente maior que das cervejas tradicionais.
As micro cervejarias produzem uma variedade muito maior de estilos, onde se utilizam maltes com diferentes graus de torrefação para adquirir nuances de diferentes sabores e colorações.
O custo por litro produzido é muito maior.
Não utilizam produtos e aditivos químicos para baratear ou acelerar a produção.
O número de pessoas empregadas por litro produzido é maior que das grandes indústrias, onde a maior parte do processo é totalmente automatizado.
Utilizarem matéria prima de qualidade muito superior e mais caras e tem seu custo fracionado numa quantidade muito pequena de litros produzidos.
Ainda fomentam o turismo e a economia regional.

É uma concorrência desleal.

Em países desenvolvidos as micro cervejarias são taxadas de forma diferenciada e as cervejas custam em torno de 40 a 50% a mais que as tradicionais. No Brasil esse valor chega a ser dez vezes superior.
Um primeiro passo seria a inclusão das micro cervejarias no Simples Nacional, o que vem sendo discutido. Mas esbarra na burocracia brasileira, na disputa de poderes e nas ações de lobby disfarçado das grandes cervejarias (Um levantamento de um repórter da VEJA - SP comprovou que em 2010 as grandes indústrias doaram de forma legal quase R$20 milhões para políticos).

Voltando para a música da Legião Urbana:
"Depois de 20 anos na escola, não é difícil aprender, todas as manhas do seu jogo sujo".
Mesmo sofrendo com lobby, financiamento "legal" de políticos, bloqueio de pontos de venda e concorrência desleal as micro cervejarias vem ganhando espaço e destaque com a cerveja artesanal pela qualidade e pela variedade de estilos.
Isso é uma resposta do mercado que esta cansando da imposição das grandes indústrias e querem um produto diferenciado.

Aos amigos que tiveram coragem de empreender no negócio eu só posso dar meu apoio de todas as formas que consigo e dizer que continuem e acreditem.
Quando Steve Jobs quis contratar o CEO da Pepsi John Sculley, (a Apple ainda era uma Empresa minúscula comparada com a Pepsi).
Ele perguntou:

"Você quer passar o resto de sua vida vendendo água com açúcar ou quer mudar o mundo?"

Vocês estão mudando o mundo, vocês estão oferecendo aos consumidores um produto milenar, mas que nunca tiveram acesso.

"Somos os filhos da revolução" cervejeira que esta apenas começando.
"Vamos fazer nosso dever de casa", cervejas de qualidade, "e ai então vocês vão ver suas crianças derrubado reis".

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Franke Bier, cerveja e religião

Sempre sou curioso pelo que tem por traz dos rótulos de cerveja.
Gosto de saber a história, as curiosidades, particularidades e os diferenciais das cervejas que degusto.
Acho que um dos segredos para uma cerveja ter sucesso, além da qualidade (claro), ela precisa ter uma história, um propósito, uma origem e diferenciais.

A cerveja em si tem sua origem ligada a lendas e curiosidades.
O surgimento da bebida acredita-se que tenha ocorrido ao acaso há mais de 10.000 anos.

Esta comprovado que o início do desenvolvimento da civilização humana e agricultura está diretamente relacionado com a arte da fabricação de cerveja.

Quanto a origem, uma lenda diz que coletores de cereais esqueceram cevada num recipiente ao relento, choveu sobre os grãos, o sol cuidou da germinação, choveu novamente e leveduras selvagens fermentaram aquele liquido. Alguém experimentou e assim nascia a cerveja, o resultado desse "acidente" foi atribuído a uma obra de milagre dos deuses.


Reprodução de Ceres



A cerveja foi batizada assim pelos romanos em homenagem à deusa Ceres (Cervisiae em latim), deusa da agricultura e da fertilidade.
Durante a história vários deuses e santos foram relacionados a bebida.






Existem diversas evidências e teorias que dizem que a cerveja foi substituída por vinho nos textos bíblicos.
Jesus Cristo na verdade seria tomador de cerveja e teria multiplicado cerveja e não vinho em seu primeiro milagre.

Na idade média a relação com religião continuou e os monges foram os primeiros a produzir a cerveja em larga escala.
Imagem Google

Mosteiros da "Ordem Trapista" produzem cervejas espetaculares sob a supervisão dos monges.

Como por exemplo: Rochefort, Achel, Orval, Westmalle, Vleteren Oester, Chimay, La Trappe, dentre outras.





Mas e a Franke Bier tem alguma coisa a ver com religião?


Bruno Oswaldo Franke
O nome Franke Bier é uma homenagem ao meu avô Bruno Oswaldo Franke.
Descendentes de Alemães, herdamos o sobrenome de Carl Friedrich Franke que viveu em Eisleben na Alemanha. Eisleben é a cidade onde nasceu e morreu Martin Luther.
Em 1852 Carl Friedrich Franke embarcou no navio Marianne com a esposa Christina Friederike Carolina Grimm e mais quatro filhos. Cruzaram o Atlântico para viver no Brasil em busca de uma nova pátria, fixaram inicialmente residência em Vila Tereza, onde hoje é Vera Cruz - RS.



Franke Bier também é uma referência do local onde a cerveja é produzida: No porão da casa que meus pais herdaram de meus avós maternos.

A temperatura no porão é ideal para fermentação de cervejas da família Ale durante todo o ano.



Meus avós construíram a casa em 1957, numa pequena chácara, o local ainda era colonia de Santa Cruz do Sul - RS. Não existia calçamento e na propriedade tinha lavouras de tabaco, milho, feijão, batata, pastagens, verduras, criação de galinhas, porcos e gado leiteiro (principal atividade).



Minha avó Ilory Franke, hoje com 86 anos, com uma saúde e memória invejável conta as histórias da época com riqueza de detalhes.
A comunidade não possuía igreja na localidade e a maioria dos habitantes eram descendentes de alemães que tinham como religião Luteranismo que surgiu em Eisleben.


Marca das velas do altar nas vigas

Os fiéis se reuniam e os cultos da comunidade passaram a ser realizados no porão da família Franke, o mesmo porão que hoje produzimos a Franke Bier.

Com o tempo o número de fiéis foi crescendo e o porão ficou pequeno, então meus avós doaram terrenos para a construção da igreja. A comunidade se organizou e conseguiram construir o templo da Comunidade Martin Luther de Santa Cruz do Sul - IECLB. Que foi o primeiro templo da IECLB descentralizado da cidade.




A igreja foi inaugurada em 10/04/1983 no mesmo dia em que toda a família Franke estava comemorando meu primeiro ano de nascimento, foi um dia de muita celebração.
Templo da Comunidade Martin Luther que teve seus primeiros cultos no porão da casa da família Franke, que são descendentes de Carl Friedrich Franke, de Eisleben, cidade onde nasceu e morreu Martin Luther. Hoje o porão é utilizado para a produção da Franke Bier

Minha família continua ligada a igreja e muitas vezes, em dias de produção, é possível escutar os sinos da Igreja anunciando o inicio ou término do culto, mas poderiam estar os sinos anunciando que é dia de produção de Franke Bier.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Uma explosão de merda na cerveja


Ontem eu estava fazendo uma cerveja, receita nova, com doses extremas de "Lúpulo".

Era para fazer até o "olho de Sauron (Senhor do anéis)" chorar de tão boa que iria ficar.

Ja estava a horas envolta da panela apreciando uma fervura intensa.

"Uma auréola de vapor" se formava na sala de brassagem e o perfume da fervura tomava conta do ar.

Estava quase na hora de finalizar, fazer o whirlpool e formar o "trub".

De repente, em um momento de distração ocorre "uma explosão de alguma coisa".

Foi uma "explosão de lúpulo no fundo da panela".
Uma explosão tão grande que parecia uma "explosão atômica".
"Vista no Google Maps" iria parecer com a de "Hiroshima", com direito até ao formato de "couve-flor".







Acreditem ou não, mas foi "uma explosão vista do espaço"!!!






Eu ja estava pensando em subir na "árvore dos fundos de casa" e sair dali "sobrevoando" "com um helicóptero".

Não conseguia enxergar nada, só "reflexos ao redor".




Quando tudo estava acalmando ocorreu a "explosão da tampa de uma garrafa de cerveja",
foi fraca e ocorreu apenas "uma erupção pelo gargalo de espuma", mas eu ainda estava tão assustado com a "explosão" anterior que borrei nas calças.

Confesso que achei que seria só "vapor", ou seja, achei que eram "indícios da formação" de um pum. Poderia ter imaginado "que deve ser algo" geralmente "achado numa fralda".

"Mas perai, tem a ver com cerveja?" Que papo é esse de pum? Vamos voltar a cerveja!!

Quando tudo acabou deu "pra ver o rosto de Germano olhando apavorado".

Ele estava perto da panela e "deixou cair uma coisa e dai deu nisso".





Perguntei:

-  O que você deixou cair ai dentro,"Fermento"?

E ele me respondeu:

- Uma "TRUFA DE MERDA.....KKKKK"





Claro que nada disso aconteceu.

Ontem lancei uma brincadeira para ver quem estava ligado na página da Franke Bier no Facebook.
Postei a foto acima e o primeiro que acertasse o que é ganharia uma Franke Bier - Red Ale.


Surgiram tantas respostas engraçadas que resolvi tentar fazer um post a altura das respostas usando as mesmas. As palavras em negrito e entre aspas tirei das respostas.
Agradeço a todos que participaram e curtiram. Me diverti lendo as repostas e fazendo esse texto.
O primeiro a responder corretamente o que era foi Bruno Maia de Oliveira que respondeu "Trub". Essa foi fácil em Bruno? Vamos combinar a retirada da garrafa.
Trub é um material mucilaginoso precipitado durante a fervura do mosto constituído de resinas de lúpulo, restos de malte, proteínas coaguladas e polifenóis.
Para acumula-lo assim no centro da panela é preciso ficar fazendo uma circulação do mosto durante aproximadamente 5 minutos ininterruptos. Após 20 minutos de repouso o trub vai se concentrar todo no fundo e no centro, muitas vezes com algumas formas geométricas curiosas.
Quem quiser conferir as respostas originais acesse o link para a página da Franke Bier.
Agradeço o carinho, a leitura e espero que tenham gostado.
Tomara que nunca aconteça nada parecido hehe.

Prosit!!

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Destino Cervejeiro parte 2. (Uma cervejaria homebrewer)


Pouco mais de 20km nos separavam da Alenda Bier em Morro Reuter e a Cervejaria Maniba em Novo Hamburgo.
Numa excursão de cervejeiros o que se faz nesse meio tempo? Tomamos cerveja, claro.

Abrimos um barril de Saizon com coentro, gengibre e pimenta rosa que foi produzida pela CerVale Rio Pardo numa brassagem demonstrativa no Festival da Cerveja Gaúcha realizado em Santa Cruz do Sul.


Como nosso Café Bávaro foi bem reforçado nem queríamos saber de almoço, tocamos direto para Cervejaria Maniba.




Na entrada da cervejaria já chamava a atenção uma muda de lúpulo que se desenvolvia de maneira guerreira e se espalhava por uma grade comprovando ser uma trepadeira.

Fomos recepcionados pelo proprietário e cervejeiro Cristiano Wink.

Nas apresentações o Cristiano já foi anunciando que ele era homebrew e que a Maniba era na verdade uma nano-cervejaria.

Eu não conseguia identificar onde terminava os equipamentos de homebrew e começava a cervejaria, ou onde terminava a cervejaria e começava o homebrew.
A sala de brassagem da Maniba embaixo e num estoque encima delas as panelas de homebrew. Da mesma forma as cervejas extremas, carregadas de lúpulo, com duplo dry hopping e muita personalidade. Características encontradas mais facilmente em cervejas de homebrewers. Resumindo, é uma cervejaria com alma de homebrew.

O Cristiano é um apaixonado por cervejas, falou para nos sentirmos em casa, contou sobre a história e nascimento da Maniba e falou das cervejas que iriamos degustar.

A origem do nome Maniba tem várias explicações, mas isso deixo para quem quiser saber perguntar para o Cristiano.





Degustamos várias cervejas, Red “Bloody” Ale, India "Mantra" Ale, WitBier, uma que acho que era uma Robust Porter (não peguei o nome), dentre outras.







A degustação começou de maneira espetacular, com a Black Metal IPA. Todas as cervejas são maravilhosas, mas é da Black Metal IPA que vou falar.

A Maniba recebeu medalha de Ouro no Festival da Cerveja Brasileira em Blumenau - SC com a Maniba Black Metal IPA. Eu já havia tido a oportunidade de toma-la on-tap mas na visita o Cristiano nos ofereceu ela direto do tanque de maturação (Maniba Black IPA direto do tanque) se tomar ela on-tap já é um espetáculo, tente imaginar direto do tanque. Eu estava mais faceiro que gurí de bombacha nova.

A coloração é negra a ponto de nem contra a luz mudar a tonalidade, espuma densa e marrom com ótima duração.
Aroma encantador, com lúpulos cítricos, florais, herbais e frescos. Ainda é possível perceber algum toffee.
O sabor apresenta um equilíbrio fantástico entre os maltes torrados e os lúpulos. Os 70 IBU quase passam despercebidos diante de tanta harmonia. Brindando com uma excelente drinkability uma cerveja extremamente amarga.

O Cristiano fez uma tour cervejeiro nos EUA, onde aprendeu algumas técnicas que resultaram nessa impressionante e premiada Black Metal IPA. Nos passou muitas curiosidades e características da Escola Americana.

Virei um fã das cervejas da Maniba e frequentemente quero ter algumas em meu estoque.

Uma coisa que é impossível deixar passar despercebida e não citar aqui são as cabeças de Javali na cervejaria.

O Cristiano também é Veterinário e presta serviço para um órgão estadual para controle e acompanhamento da população de Javalis. Num bate papo, entre uma cerveja e outra, após uma breve explicação de como os javalis tem se tornado uma praga de devastação de lavouras e árvores nativas, ele nos mostrou alguns cães de caça. Ele tem um canil com 18 cães de caça de grande porte.

Na hora de comprar cerveja todos queriam a Black Metal IPA, mas não tinha em garrafas. Havia um tanque fermentando e um na maturação, não sei o que sobrou no de maturação depois de nossa visita hehehe.

Nos divertimos comprando as outras cervejas, copos e camisetas.

Hora de fazer a foto oficial, recolher as compras, nos despedirmos e pegar estrada rumo a Santa Cruz do Sul.


Até a próxima Maniba!!






Ainda tínhamos nossa Saizon para acompanhar a viagem de volta, mas só o pão liquido não era mais suficiente e resolvemos fazer uma parada para comer em algum restaurante de beira de estrada.





Lembrando que era domingo, feriado de finados e começo da noite. Primeiro lugar que paramos já estava fechado e para nossa sorte o segundo estava aberto.
Não poderíamos ter parado em lugar melhor: Casa do Mel em Tabaí.

A proprietária Rojane ao ver aquele bando de cervejeiros entrando em seu estabelecimento, provavelmente no horário de fechar não se desesperou, apenas falava em voz alta para a equipe de funcionários a quantidade de pessoas que estava entrando. Possivelmente para a equipe da cozinha se preparar para uma enxurrada de pedidos.

O pastel de carne é simplesmente divino. Frito na hora, massa seca, firme, crocante e sem gordura. O recheio com um sabor que só um pastel feito com carinho e ingredientes nobres pode proporcionar.

A Casa do Mel oferece diversos produtos coloniais e um excelente atendimento. Ao elogiar o atendimento e o pastel a Dna Rojane me disse que o pastel fica bom mesmo com cerveja hehe.

Pena que ainda não tem na casa uma cerveja artesanal de qualidade, mas pelos ótimos produtos que ali se vende e se faz isso é só uma questão de tempo.

Assim encerramos a primeira viagem com Destino Cervejeiro da CerVale Rio Pardo. Com muita cerveja de qualidade, muitas rizadas e aquela satisfação de estarmos entre amigos fazendo coisas que gostamos. Claro que já estamos pensando e querendo a próxima.

Abraço.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Destino Cervejeiro parte 1 (Café da manhã Bávaro e uma lenda)

No dia 02 de Outubro de 2014, feriado de Finados, os cervejeiros da CerVale Rio Pardo partiram em uma excursão com Destino Cervejeiro.
A saída foi cedinho, com horário de verão em vigor, quando saímos de casa mal tinha amanhecido. Essa saída cedo tinha um propósito: A primeira parada seria para um café da manhã Bávaro, depois visitaríamos as cervejarias Alenda Bier e Maniba.

Após rodar pouco mais de 180km chegamos a encantadora cidade de Morro Reuter, cidade de aproximadamente 6.000 habitantes que faz parte da “Rota Romântica”. É considerada “o primeiro degrau da serra gaúcha”, titulo que fica evidenciado pelas belas paisagens, clima europeu e cultura alemã herdada dos imigrantes. A cidade também detém o título de Capital da Lavanda.

Fomos direto para a localidade Walachay para nosso tão esperado Café Bávaro, onde fomos carinhosamente recepcionados pelos amigos Eduardo e Dulce da Alenda Bier, ambos elegantemente vestidos com traje típico Alemão.




O Café Bávaro foi no aconchegante Café Colonial de Walachay, onde todos os pratos são elaborados artesanalmente com ingredientes da própria comunidade.








No lugar ainda é possível apreciar uma linda vista do vale pela janela do restaurante ou no mirante do lado de fora. Mesmo sendo um dia com muita cerração a vista era encantadora.











A mesa com os copos de Weiss já indicava o que estava por vir.








O Café foi harmonizado com cucas, lingüiças, Alenda Weiss e Alenda Rauchweizen.








Alenda Weiss é uma autêntica Hefeweisen refermentada na garrafa com métodos de produção idênticos da Baviera. Com uma bela formação de espuma que vai deixando seu rastro no copo conforme você vai tomando, coloração amarelo turva, no aroma cravo e banana e um gosto simplesmente fantástico. Uma cerveja refrescante com ótimo drinkability.













Alenda Rauchweisen é uma cerveja extremamente complexa que leva na receita, em sua grande maioria, maltes defumados. Coloração escura, espuma densa e cremosa. Aroma defumado que me remete diretamente ao Bacon. Já o gosto é muito equilibrado, com o defumado ficando um pouco mais sutil, mas ainda presente.








Ambas combinaram perfeitamente com o nosso café da manha Bávaro.

Crédito foto: Luciano Morsch

Crédito foto: Luciano Morsch






Além de avaliarmos as cervejas o Eduardo nos apresentou todas as cervejas da Alenda Bier (algumas únicas no Brasil que vou falar depois), antes quero só citar a Alenda Lavanda-Weisse. Acima eu disse Morro Reuter é a Capital da Lavanda e a Alenda Bier homenageou a cidade produzindo uma cerveja que leva lavanda (ingrediente local) em sua receita. São apenas 3 cervejarias no mundo todo que produzem cerveja com lavanda, vale a pena experimentar!!












Depois da barriga e alma cheia estávamos prontos para nosso próximo destino: Visitar a Alenda Bier

Crédito foto: Luciano Morsch


Alenda Bier é uma micro-cervejaria familiar, fundada pelo Eduardo e a Dulce em 2010. Por vários aspectos podemos considerar essa cervejaria uma lenda.
A origem do nome vem de quando começaram a produzir cervejas de trigo como homebrewers e alguns amigos passaram a dizer que a cerveja na verdade era uma lenda.
É especializada em cervejas de trigo, e só produz cervejas de trigo.
Todo o equipamento foi projetado e desenhado pelos proprietários inspirados nas pequenas cervejarias da Alemanha.
Além de produzirem cervejas de acordo a Lei de Pureza da Cerveja (Reinheitsgebot) utilizam processos tradicionais da Alemanha como a fermentação em tanques abertos e decocção.

Todos os anos o casal viaja para Alemanha a fim de importar técnicas, pesquisar e melhorar suas cervejas.
Os estilos produzidos são Weissbier, Weizenbock, Rauchweizen e, alguns estilos é a única cervejaria que produz no Brasil:
Raucweizendoppelbock, Rauchweizeneisbock, Leichte-weisse, Lavanda-weisse e possivelmente a Dunkelweizen também.
Em breve estarão lançando mais alguns rótulos, dentre eles uma Sommer-weisse.



A Cervejaria esta instalada as margens da Estrada do Mato Comprido, quem passar distraído por ali não vai encontrá-la por estar em meio a árvores. Vai dizer que a existência da mesma é lenda!
Uma cervejaria no Brasil que produz apenas cervejas de trigo? É lenda!!
Única cervejaria no Brasil que produz Raucweizendoppelbock, Rauchweizeneisbock, Leichte-weisse, Lavanda-weisse e possivelmente a Dunkelweizen? Não pode ser, é lenda!!
Fermentação em tanques abertos? É lenda!!
Cerveja com Lavanda? É lenda!!                                      



Pois bem amigos, nada disso é lenda e tudo está na Alenda Bier.

Logo na chegada o grupo é dividido, por ser um local pequeno (mas pequeno mesmo) é impossível todo o grupo fazer a visita juntos e fizemos 4 turmas. As instalações ficam no porão de uma casa, não chega a ser tipo um bierkeller, mas é legal.





Fui logo no primeiro grupo, na entrada já nos deparamos com a sala de fermentação com tanque aberto. A sala é com ambiente controlado e claro que não temos acesso para não incomodar nossas amigas leveduras. Dos arquivos de viagens para a Alemanha certa vez o Eduardo me mostrou uma foto onde estava literalmente dentro de um tanque de fermentação. Eu brinquei e disse que queria tirar uma foto igual na Alenda.










A sala de brassagem chama a atenção pelos equipamentos desenhados e produzidos especialmente para Alenda, como um tanque que é utilizado apenas para fazer o whirpool.

Depois de conhecer as instalações, escutar todas as explicações e ganhar algumas dicas para produção de cervejas de trigo liberamos o local para o próximo grupo.


Quando todos visitaram a cervejaria era hora de comprar cerveja, das que eu comprei vou destacar agora apenas a Alenda Rauchweizeneisbock que é uma cerveja extremamente complexa e rara no mundo todo.
Ela é feita através do congelamento da cerveja na maturação. O objetivo é congelar e remover a água presente na cerveja, concentrando assim sabores e elevando o teor alcoólico para mais de 11%. Uma leva rende poucas garrafas, você não vai encontrar essa cerveja para vender em outro lugar, apenas na Alenda (e ainda se tiver muita sorte pois ela é sazonal).

A origem desse estilo gira em torno de lendas (estamos falando em lenda novamente?). Uma das lendas diz que o auxiliar de um cervejeiro estava incumbido de guardar barris que estavam no lado de fora de uma cervejaria e acabou esquecendo. Com o rigoroso inverno da Alemanha os barris congelaram e como punição o ajudante desastrado era para beber a cerveja, mas descobriram que ela estava muito boa. Outra lenda diz que os barris ao serem transportados no inverno congelavam parcialmente. O gelo era, na verdade, apenas água. Ao ser removido deixava a cerveja com alto teor alcoólico, muito mais encorpada e com sabor acentuado. O fato é que o surgimento do estilo certamente se deu por algum acidente de congelamento. Claro que hoje não se congelam barris para fazer essa cerveja, o equipamento é desenvolvido para que se consiga temperaturas extremamente baixas.

Estou ansioso para degustar a minha.

Feito os agradecimentos, as despedidas, é hora de carregar as caixas de cerveja e partir para nosso próximo destino: Cervejaria Maniba


sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Lançamento: Bohemia Barley Wine

A Ambev acaba de lançar a Bohemia Reserva, uma Barley Wine com 10% de graduação alcoólica, levedura de alta fermentação, blend de 5 maltes, lúpulos americanos e ingleses.
Envelhecida por 12 meses é uma edição limitada, com 3.978 garrafas numeradas, com uma embalagem de madeira confeccionada artesanalmente, envolta em um papel especial e cera na tampa para evitar qualquer interferência externa na cerveja. Claro que todo esse apelo na embalagem reflete no preço, que foi divulgado a R$120,00 a garrafa.


Achei muito legal a Ambev lançar essa cerveja, que talvez até seja uma resposta afirmando que eles também conseguem fazer cervejas de qualidade superior e abrir mão dos cereais não maltados (milho, arroz, etc).

O estilo escolhido considero a cerveja perfeita para fisgar aquelas pessoas que conhecem bons vinhos mas dizem que não gostam de cerveja. 

Não gostam de cerveja barata feita de milho, mas experimentem uma Barley Wine para ver!!

Além da semelhança com os vinhos no nome, a Barley Wine é uma cerveja de guarda, ou seja, quanto mais tempo você guarda-la em condições adequadas, mais ela ganha em complexibilidade, sabores e aromas.

Estou curioso para degustar, mas R$120,00 não acho um preço justo, não vou comprar a embalagem e por esse preço compro cervejas muito mais complexas e até algumas que sejam referência no estilo e não chegam nem perto desse valor. Talvez um colecionador ache o preço justo.



Um fator que indica que isso pode ser uma resposta que eles conseguem fazer cerveja de qualidade é que a Ambev pediu recentemente registro no Ministério da Agricultura de uma Belgian Blond Ale com erva-mate, uma Índia Pale Ale com jabuticaba e uma WitBier com laranja, limão, coentro e pimenta rosa, conforme foi divulgado no site da Veja SP. O que é fácil entender se analisarmos que o mercado de cervejas. As cervejas das grandes cervejarias, as mainstream, vem apresentando uma queda inédita no consumo, queda superior a 16%. Enquanto que as artesanais vem crescendo a passos largos e conquistando os consumidores.

Meu único receio é as gigantes entrarem nesse segmento de mercado para literalmente fazer bagunça. Uma vez que a legislação brasileira não diferencia uma pequena de uma gigante, é a mesma tributação. Isso cria uma concorrência desleal.
As gigantes tem poder de compra de insumos, fracionam o custo numa quantidade infinitamente maior e o processo é praticamente todo automatizado. As micros primam pela qualidade, importam os melhores insumos possíveis e consequentemente pagam mais caro. O processo é artesanal e empregam muito mais pessoas por litros produzido, o que também reflete em custos.

Mas o que podemos afirmar com certeza é que o mercado esta mudando e o brasileiro esta descobrindo que existem centenas de estilos diferentes e não apenas aquela loira que só é possível engolir estupidamente gelada.

As gigantes estão se obrigando a melhorar e abandonar aquele discurso furado de que suas cervejas são adaptadas ao clima e ao paladar do brasileiro.

É a revolução cervejeira no Brasil apenas começando!!

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Caí numa pegadinha com cerveja

Algumas cervejarias fazem campanhas publicitárias fantásticas fazendo pegadinha.

Vou destacar algumas que vale a pena assistir antes de relatar meu drama. Sim, eu já caí numa pegadinha com cerveja.

Imagine que você seja torcedor fanático de um time de futebol e justamente num dia decisivo para seu time sua namorada ou seu chefe surge “convidando” você para ir no teatro assistir o concerto de um quarteto de cordas no teatro. Que drama em? A Heineken criou esse evento num jogo entre Real Madrid e Milan pela UEFA Champions League. Em meio a apresentação, um tanto monótoma, surge algumas algumas frases no telão “Difícil dizer não para o seu chefe, não é?, “Para sua namorada?”, “E para o jogo?”, “Como você pode se quer ter pensado em perder ao grande jogo?”, “Vocês ainda estão conosco?”. Logo após o quarteto tocar o hino da Champions League vem a proposta: “Vamos assistir juntos?” e o telão passa a exibir o jogo ao vivo. Essa pegadinha passou na TV em rede nacional no intervalo do jogo.
Assista ao vídeo abaixo.




A Carlsberg não fica para traz na criatividade de seus comerciais. O primeiro foi uma sala de cinema cheia de mal encarados que mais parecia uma convenção de motoqueiros gangsters. Mas para mim a melhor é uma que foi um verdadeiro teste de amizade.
Até onde você iria para salvar um amigo? Pensando nisso a Carlsberg fez uma armação fantástica.
Imagine você dormindo, no meio da madrugada e seu melhor amigo liga dizendo que perdeu dinheiro num jogo de Poker e precisa que você leve 300 Euros para salva-lo. Mas o verdadeiro teste começa quando o amigo chega no local combinado, poucos foram até o fim.




Uma que gosto muito foi arquitetada por um grupo de amigos.
Logo que o amigo da turma saiu, a vítima, os amigos invadiram a alteraram toda a tubulação da casa, substituindo a água do chuveiro e torneiras por cerveja.
Ao chegar em casa a vítima percebeu que jorrava milagrosamente cerveja em todas suas torneiras. Depois da alegria inicial e de gravar um vídeo com celular para provar que não estava sonhando foi embaixo da casa verificar as tubulações e descobriu os barris com as gargalhadas dos amigos. E claro que todos foram para dentro de casa tomar cerveja.




Se alguém quiser pode fazer essa comigo!!

Como falei no começo desse post eu caí numa pegadinha com cerveja. Não apareci como vítima em nenhum comercial nem meus amigos conectaram cerveja nas torneiras da minha casa. Foi uma coisa simples, mas eu caí como um patinho e rendeu belas rizadas.
Meu irmão Gabriel e a Danielle moravam em Pelotas – RS. Estávamos indo indo passar as férias com eles na praia do Cassino, eu, minha mulher Jessica e meu outro irmão Germano.

Eu já estava fisgado pelas cervejas de qualidade e não fazia mais questão de tomar as cervejas mainstream.

A viagem foi dura, em pleno verão, carro sem ar-condicionado e mais de 5 horas na estrada. O Germano estava sentado sozinho no banco de traz e ao lado dele um cooler cheio de Stella Artois. Cada cerveja que ele abria fazia questão de me oferecer e fazer aquele “ahhhhhhh” no primeiro gole. Como eu estava dirigindo e no Brasil é tolerância zero na Lei Seca aguentei no osso. Belo exemplo!!
Chegamos na casa do Gabriel e eu estava simplesmente espumando de sede, cansado, suado e louco por uma cerveja. O Gabriel e o Germano muito prestativos me trouxeram uma garrafa de Hofbräu. Para quem não conhece é uma das mais tradicionais de Munique, se procurar imagens da Oktoberfest da Alemanha vai ser fácil ver as pessoas brindando com os copos da Hofbräu (HB).


Vieram caminhando e já servindo meu copo. 
Eu estranhei um pouco a espuma pouco densa e sem duração, mas com a vontade que estava de tomar uma cerveja nem parei para analisar. 


Estava bem gelada e foi descendo redondo, sem nenhuma alusão a Skol, por favor, mas realmente foi muito bom aquele gole. Praticamente em apenas um gole aliviou todo o stress do calor e mais de 5 horas dirigindo.


Depois de matar quase um copo inteiro naquele primeiro desesperador gole eu me ajeitei na cadeira e falei satisfeito “BAHHH, É OUTRA COISA”. 



Nisso todo mundo cai na gargalhada, o Gabriel estava com a boca cheia de cerveja e não conseguiu segurar o liquido, deu aquele jato de cerveja pelos lábios fechados. Eles chegavam a se contorcer e chorar de tanto rir. Eu olhava para todos querendo entender e rir também, ninguém conseguia nem falar para me dizer o que estava acontecendo. Até que o Gabriel mostrou uma latinha de Polar que ele tinha escondido. 

A garrafa de HB estava vazia, colocaram Polar na garrafa e deram para mim tomar. Na hora que larguei o “BAHHH, É OUTRA COISA” ninguém se aguentou.


Eu prometi vingança a eles, mas ainda não surgiu uma oportunidade. Mas concordo que realmente foi muito engraçado.
Preciso citar o Micael "Teto" Bonilha que não estava junto, mas esse canalha foi quem tomou a Hofbräu e teve a brilhante idéia de fazerem essa pegadinha para mim. 

Um brinde às pegadinhas com cerveja!!